Lecar diz que vai mudar estratégia em busca do seu carro. Sai carro nacional dali?

Empresa nacional parece estar em busca de dinheiro para fazer seu produto e se coloca como uma startup. O que isso significa?

Após uma participação contraditória no Salão do Automóvel de São Paulo, a Lecar diz agora estar recalculando a rota em busca de seu primeiro veículo no mercado e vai em busca de uma parceria com uma empresa chinesa. Mas não era um projeto 100% nacional?

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Em entrevista à colunista Paula Gama, do Uol, o dono da Lecar – Flávio Figueiredo – disse: “A gente entendeu que precisa mudar o jeito de se comunicar e de apresentar as coisas. Somos uma startup, com um projeto industrial ousado, mas que está começando. E precisamos ser mais cautelosos com prazos e expectativas“.

O que fica bem claro é que Flávio quer construir um carro do zero com a filosofia aplicada às startups. Para quem não está familiarizado como funciona uma startup: uma empresa é criada do zero em torno de uma ou algumas ideias.

Maquete do que deve ser o carro da Lecar: marca não apresentou nenhum veículo funcional no Salão do Automóvel de 2025 (Renato Fonseca/Turboway)

Como funciona uma startup?

Uma startup vai à público e divulga sua ideia com o objetivo de ser financiada por aquilo. Assim nasceram várias empresas que estão no mercado brasileiro: Ifood, 99, Enjoei, Buser, etc.

Com caixa robusto e devidamente patrocinado por investidores que lá na frente vão cobrar seus lucros, essas empresas fazem acontecer. Mas aqui está um ponto importante: as startups que citei são apenas as que deram certo e hoje são muito conhecidas.

Diariamente são criadas startups em todos os cantos do país com a mesma expectativa, a maioria nasce e morre por diversos motivos: ou não recebeu o financiamento que necessitava, ou o produto não era bom o suficiente como a empresa divulgava.

E assim como qualquer ramo do mercado, o ecossistema das startups também é um prato cheio para pessoas mal intencionadas. Existem pessoas que se especializaram em abrir startups, apresentar lindamente a empresa e depois fechar com a justificativa que não deu certo.

Se por um lado isso parece um golpe, por outro quem largou dinheiro nisso não pode reclamar, uma vez que a própria natureza de uma startup é: “me financia e se der certo vamos ficar rico juntos”. Ou seja, não dar certo é o risco do negócio. E sabe o que isso significa? Que se daqui a pouco a Lecar encerrar suas atividades sem fabricar um único carro, “a culpa será da imprensa e das pessoas que não acreditaram no carro nacional”. Uma falácia.

A Lecar quer construir um carro a partir deste sistema de startups. Parece muito remota a chance disso dar certo. Já existem startups nacionais colhendo frutos no setor automotivo? Já sim. A Arrow, no Rio Grande do Sul, é um belo exemplo e hoje fabrica com maestria furgões elétricos. Só que a Arrow desenvolveu um produto e levou ao mercado, diferentemente da Lecar, que se apresenta por aí com um modelo feito de isopor.

O ponto alto que indica que a empresa está perdida no personagem é vender a ideia de que o país precisa de uma fabricante nacional. Precisamos mesmo? Vai cair o preço? Só isso de fato importaria ao brasileiro no ramo que a Lecar quer concorrer: preço.

Digo isso porque as multinacionais que aqui estão geram milhares de emprego e fazem seus investimentos. Fabricar um carro não é um desafio que nossa indústria não consiga cumprir. Para quem não sabe, nós temos Agrale, Marcopolo e outras que são empresas nacionais e fabricam veículos. Tivemos a Troller também, embora a Ford tenha feito o favor de extingui-la. Aliás, a Troller só existia e conseguia ser um sucesso porque encontrou uma fatia do mercado que não tinha um veículo igual.

Enfim, a Lecar é um tremendo ponto de interrogação quanto aos objetivos de seu proprietário, que dá sinais atrás de sinais de que estamos vendo mais do mesmo. Diz que tem um terreno para fazer uma fábrica, diz que tem três projetos de modelos, diz muita coisa. Parte da imprensa automotiva compra falácias, parte do público de rede social compra a ideia do “nacionalismo”. Este site torce muito por novos players no mercado, mas nesse caso falta o produto, o principal.

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