A Chevrolet parou o funcionamento de sua fábrica em São José dos Campos e essa paralisação pode durar até 10 meses. O motivo é que o mercado está estagnado, com poucas vendas, e a empresa não vê razão para continuar produzindo neste momento.
Essa fábrica existe desde 1959 e hoje é a mais ociosa da empresa no Brasil. Já chegou a correr o risco de ser totalmente fechada.
Abaixo reunimos alguns fatos sobre esta unidade da Chevrolet:
Atualmente só produz dois modelos

A fábrica de São José dos Campos produz a S10 e a Trailblazer e não há qualquer previsão de produzir outros modelos. Isso porque a Chevrolet considera o seu custo muito alto em relação às suas outras unidades.
Já produziu sucessos da marca

A unidade já rivalizou protagonismo com a fábrica de São Caetano (a matriz) por anos. Saíram de São José dos Campos o Chevette (1974-1993), o Kadett e a Ipanema (1989-1999) e o Corsa (1994-2012). A S10 é produzida por lá desde 1995 e antes disso era fabricada a família de picapes A20, C20 e D20.
Também foram produzidos por lá Meriva, Zafira, Classic, Montana, Marajó, Chevy e Blazer.
Já esteve à beira de fechar totalmente

Desde 2012 a unidade foi sendo esvaziada pela Chevrolet e a montadora chegou a anunciar investimentos em 2015 e voltou atrás após uma disputa com o Sindicato local. Mais recentemente a empresa decidiu voltar a investir na unidade, mas apenas para fazer mudanças na linha que já existe (S10 e Trailblazer).
É a mais ociosa da Chevrolet no Brasil
A fábrica tem 2,7 milhões de metros quadrados, o que equivale a 327 campos de futebol, e fica às margens da Rodovia Presidente Dutra.
Hoje, no entanto, mantém vários galpões inativos. A Chevrolet inclusive colocou partes de seu complexo para locação. Um grupo chegou a cogitar o uso do local para a construção de um shopping, segundo a imprensa local.
Já chegou a ter 15 mil funcionários

A fábrica já teve mais pessoas trabalhando do que a população de 3100 municípios brasileiros e foi uma das indústrias que impulsionou o crescimento acima da média nacional da cidade de São José dos Campos entre 1960 e 1980. Hoje são 4 mil funcionários.
Viveu clima de guerra em 1985

Uma greve dos metalúrgicos assustou o país entre abril e maio de 1985. A reivindicação por melhores salários e direitos trabalhistas resultou em um embate agressivo que resultou em funcionários descontentes mantendo supervisores como reféns no pátio da unidade.
A vizinhança não prosperou
Existe apenas outra fábrica de automóveis na mesma região da fábrica da Chevrolet em São José dos Campos. A Volkswagen está localizada em Taubaté, pouco mais de 20 minutos uma da outra. A Volks também parou a produção pelos mesmos motivos da Chevrolet.
Sobre os vizinhos que não prosperaram: a Caoa Chery tinha uma fábrica na cidade vizinha de Jacareí e essa unidade não produz mais. Em Taubaté a Ford encerrou o funcionamento em 2021. Bem perto da Chevrolet estava a fábrica da Engesa, uma empresa que fabricava veículos militares e ficou conhecida entre os jipeiros. A Engesa quebrou em 1995.
Dá para dizer que a maior culpada pelo esvaziamento da GM em São José dos Campos é a própria GM, por mais que o sindicato tenha sido intransigente em alguns momentos. O maquinário é defasado tecnologicamente, tem um uso excessivo de manutenção corretiva, a empresa cometeu erros de leitura de mercado, como tirar o Corsa de linha e colocar o Agile, literalmente um tapa buraco que deu errado. E por aí vai.
Realmente houve entraves de negociação entre empresa e sindicato no final da década de 2000, o que fez São José perder o Projeto Ônix. No entanto, posteriormente, empresa, prefeitura e sindicato chegaram em um entendimento sobre novos projetos, inclusive o Sindicato aceitou reduzir a grade salarial para novas contratações, tanto que hoje, a GM paga salários iniciais menores do que muitas indústrias no entorno e em cidades próximas. Porém, a GM não cumpriu com o acordo, no tocante a lançar um novo veículo na planta, o que exigiria investimentos em maquinários e plataformas de produção. Vale lembrar que a GM de São José dos Campos também é importante na produção de motores e transmissões para as operações no Brasil.
Sobre a CAOA Chery, a empresa já começou errado no Brasil, apostando em veículos compactos e que dependeriam de grandes volumes, quando o mercado já demandava SUV’s. Por conta disso, as linhas de montagem não eram flexíveis, no sentido de montar veículos maiores. A empresa não desenvolveu cadeia local de fornecedores, preferindo trazer quase tudo da China, até mesmo cessando a produção de motores e transmissões em Jacareí. Bastou a pandemia, com a quebra das cadeias de produção e o aumento exponencial dos custos de frete naval e dos contêineres, para matar a operação em Jacareí. Por não desenvolver fornecedores locais, o mercado de reposição fica comprometido. Para piorar tudo, a Caoa Chery ainda lança e tira modelos do mercado antes que os mesmos adquiram aderência de vendas. Isso mancha ainda mais a imagem da empresa no mercado. Receita do fracasso está aí.