O Salão do Automóvel retorna após longa ausência. Nem todas as marcas que atuam no Brasil estão lá, o que é um ponto negativo, mas há boas surpresas e novidades que valem a visita para entender o que veremos em nossas ruas nos próximos anos.
Os chineses estão chegando com vontade e, em uma primeira olhada no Salão, dá a impressão de que teremos um inevitável domínio de chineses e elétricos no país. Porém, pé no chão ao lembrar que os chineses ainda não tem nem 8% do mercado (sendo que só a BYD tem 5%).
Abaixo relaciono o que eu achei de legal e o que eu não achei legal na última visita ao Salão, no sábado (22/11):
O que é legal no Salão?
O reboot das chinesas

A evolução das marcas chinesas e como elas vêm forte para tentar um espaço no mercado nacional é gritante. Voltando 11 anos no tempo, no Salão do Automóvel de 2014, essas marcas se dividiam entre “promessas” e “piadas”. Pegando a Geely como exemplo: naquela época ela apresentou um carro compacto e barato, quase descartável. O grande destaque do stand da empresa era uma pessoa fantasiada de panda apresentando o carro que lembrava o animal.
Em 2025 a Geely chega ao salão com modelos tecnológicos (EX2 e EX5) que fazem inveja às marcas aqui estabelecidas. E chega com uma sociedade na Renault que permitirá à chinesa fabricar seus modelos no Brasil.
Novos carros da Caoa

A Caoa conseguiu chamar a atenção com sua nova sociedade com a chinesa Changan. A empresa expôs os veículos da série Avatr (Avatar) e eles são surpreendentes, tanto no tamanho como na tecnologia embarcada. Como a Caoa promete montar os modelos no Brasil, a curiosidade de quem visita o stand da marca é saber se aqueles modelos chegarão por aqui exatamente como eles foram expostos. É um dos stands que mais chama a atenção no Salão.
Espaços da Stellantis

A Stellantis se esforçou bastante para colocar interatividade e se aproximar do público nos stands de suas marcas. Essa estratégia é herdada da Fiat, que sempre fez isso nos salões anteriores. No stand da Fiat, por exemplo, é possível tirar foto com o Demogorgon da série Stranger Things, e ter uma experiência com o Fiat Pulse que remete à série. Também há lojas das marcas com a venda de camisetas, mochilas, garrafas, etc.

O Citroën C5 Aircross é um carro com versão elétrica que poderia dar mais destaque à marca no Brasil. É bonito, robusto, mas a empresa não confirma se irá lançá-lo aqui ou ele só veio passear no Salão.
O Peugeot e-208 GTI é um grande destaque da marca, mas ficou escondido no fundo do stand e não estava aberto para que as pessoas pudessem ver. Merecia mais destaque.
No stand da Jeep o destaque era o Avenger, o substituto do Renegade que enfim deu as caras no Brasil. Ainda que em destaque, o veículo estava inacessível para o público abrir e conhecer mais ele por dentro.
A mudança da Renault

Visitar o stand da Renault e lembrar do que a marca apresentou há sete anos no mesmo Salão é como ver a mudança dos chineses que eu citei no começo do texto. Lá em 2018 a Renault apresentava o Kwid Outsider ao lado do Sandero RS e do elétrico Zoe. Tempos em que a marca buscava volume de vendas com carros populares. Agora em 2025 o stand da Renault traz o SUV híbrido Koleos, a picape Niagara e o SUV Boreal. O que deu na Renault? Uma nova estratégia de fazer veículos mais rentáveis. O Kwid, que está à beira de uma reforma no visual, sequer deu as caras.
Stands enxutos
As marcas nacionais levaram para o Salão apenas lançamentos e veículos que já existem por aqui e terão novidades. Nada era mais chato do que ir em salões anteriores e encontrar por lá o mesmo Volkswagen Gol de sempre com apenas alguns adesivos. Esse ano as marcas ignoraram modelos triviais que não tem nada novo para mostrar, principalmente porque os stands diminuíram de tamanho.
Museu de Campos do Jordão

A presença do stand do Carde, o museu de design e história automotiva de Campos do Jordão, engrandeceu muito o museu ao levar modelos icônicos como o Volkswagen SP2. O Carde é um museu magnifíco e nós já falamos dele aqui no Turboway.
Estrutura do Anhembi
A estrutura do novo Anhembi também é elogiável. Tanto pela organização como pelo ar-condicionado. Embora o Salão anterior (2018) tenha sido realizado no recinto de exposições da Rodovia dos Imigrantes, todos que frequentaram o salão no passado lembram como era quente e impossível passar horas no antigo Anhembi.
Picape da Kia

Teremos ainda mais picapes no mercado nacional no próximo ano. A Caoa-Chery apresentou uma, a Kia apresentou outra, a Ram lançou a sua Dakota (que é uma Titano premium). Ainda teremos a Gwm Poer, a Renault Niagara e nova Toyota Hilux. Mas no Salão o destaque mesmo é a Kia Tasman, que tem o visual diferente do que estamos acostumados a ver por aí.
Toyota Yaris Cross e Honda WR-V
Está difícil do carro chegar ao mercado, pois infelizmente a Toyota teve um problema recente em sua fábrica que foi devastada por uma ventania. Mas o carro foi lançado e apresentado no Salão. Yaris Cross e Honda WR-V são muito parecidos no acabamento e nível de equipamentos.
Ambos são veículos que vão orbitar os preços de seus irmãos maiores (Corolla Cross e WR-V). Ainda que sejam modelos que devem ter boas vendas, há pontos comparativos com os modelos mais caros que podem chamar a atenção de forma negativa: os acabamentos de ambos parecem frágeis em alguns detalhes. No caso do Honda, evidente na grade frontal.
O que não é legal no Salão?
Ausência de marcas grandes
A ausência das grandes marcas deixou o Salão esvaziado de alguma forma. Volkswagen, Audi, Nissan, Porsche e Chevrolet não têm stands. A Chevrolet está representada por lá apenas pelo Spark, veículo elétrico lançado recentemente, mas que foi levado para o stand que divulga o Polo industrial automotivo do Ceará, onde o veículo será montado. Se por um lado a organização mostra ter feito o possível para colocar de pé o evento, por outro essa ausência tira um pouco do peso do evento.
Suzuki sumiu do mercado
O stand da Suzuki exibe apenas motos, triciclos e quadriciclos. A divisão de carros da Suzuki não exibiu nada este ano e isso frustrou a expectativa de que a marca divulgaria alguma novidade, uma vez que o Jimny Sierra não está mais sendo importado pela Souza Ramos, a representante da marca no Brasil. Esperava-se o Vitara elétrico, mas não. Quando acabar o estoque de Jimny Sierra, o que as concessionárias da marca venderão no Brasil?
Fiat Dolce Camper e ausência do Panda

A Fiat já apresentou coisas muito legais em sua história no Salão. O conceito do Fastback feito pelo estúdio brasileiro da marca em 2018 foi um marco. O atual Fastback saiu do papel porque aquele deu o que falar na época. No entanto, o conceito “Dolce Camper”, exibido este ano, é horrível e pelo que notei, não chamou a atenção do público como a empresa esperava. O modelo não convence nem pela originalidade, nem pela qualidade do seu acabamento. Se ele é o que vai ditar o design da marca daqui pra frente, é bom a Fiat se preocupar.
Também fez falta o Fiat Panda, que é o lançamento mais esperado para o ano que vem. Ainda que a empresa não esteja querendo usar o nome Panda por aqui, era primordial ter exibido o veículo para que os visitantes pudessem conhecer de perto e até usar isso como laboratório.
Lecar

A empresa brasileira que quer construir um carro nacional, não convence. O stand da marca exibe maquetes de dois modelos que simulam mockups, mas na verdade são feitos de madeira e isopor. A marca ainda não divulgou nada concreto sobre seus projetos, apenas que lançará os modelos em breve. O stand da empresa apela para o nacionalismo e, por ter o discurso de “marca nacional inovadora”, acaba atraindo muitos visitantes.
A empresa não convence pelos números e pelas promessas megalomaníacas que não se cumprem. Para os que acham que é primordial o Brasil ter uma fabricante nacional como se a Lecar fosse a primeira, basta lembrar que já tivemos sucessos e fracassos históricos nessa área: Caoa, Gurgel, Troller, Marcopolo, Agralle, Puma, JPX.



