A notícia do Fiat Uno por menos de R$ 30 mil é um capítulo triste do caminho que estamos trilhando com o conteúdo na internet. Em busca de cliques, alguns sites criaram uma manchete mentirosa sem qualquer embasamento de que a Fiat lançaria o novo Uno – que na verdade é o Panda – por menos de R$ 30 mil.
A Fiat já desmentiu o que sequer precisaria ser desmentido. Com um Fiat Mobi beirando os R$ 80 mil, com qual propósito a mesma montadora lançaria um veículo custando menos de um terço deste valor? Os altos preços dos carros no Brasil atualmente são resultado de um misto das montadoras estabelecerem uma margem de lucro maior, do imposto altíssimo que o país impõe e do encarecimento das matérias primas, como o aço.
Lamentável é que qualquer tudo isso que está no parágrafo acima é de conhecimento do brasileiro médio. Ou seja, sites que disseminaram a notícia fizeram por pura má fé. Não merecem sua audiência. Outro ponto é que se o assunto fosse mesmo algo palpável, a obrigação de quem publica é consultar a empresa que pretende colocar no mercado o carro de R$ 30 mil.
O que mais assusta na história é que ela foi reproduzida por sites que já estão há algum tempo no mercado. Um deles está hospedado no portal Terra, do grupo espanhol Telefónica.
Alimentando teólogos da conspiração
Para quem trabalha diariamente com a produção de conteúdo isso tem um fim previsível: a informação de que é uma mentira nunca chegará a todas as pessoas que consumiram este conteúdo. Futuramente, quando a Fiat de fato lançar o carro com o preço na casa dos valores atuais, a informação gerará uma nova onda entre formadores de teorias da conspiração. Aí você verá coisas como “a Fiat até tentou lançar um carro por R$ 30 mil, mas foi impedida pelo cartel das montadoras”. Isso é mais comum do que imaginamos. Quando alguém tentar desmentir, será rebatido com a notícia do grande portal.
Esses sites produzem desinformação que é premiada. Como a manchete chama a atenção, sites indexadores como o Google acabam colocando estes resultados no início da busca e o site é beneficiado com uma enxurrada de visitas. Não é preciso ser gênio para entender como isso é transformado em dinheiro: a maioria dos sites parece uma árvore de Natal piscante, com tanta propaganda. E a propaganda é administrada pelo próprio Google.
Sites que publicam conteúdo original ou que reproduzem conteúdo divulgado pelas marcas e se recusam a criar “mentirinhas” para caçar cliques são penalizados, uma vez que os buscadores que listam estes conteúdos não fazem um filtro do que é verdade ou o que é mentira, ainda que a mentira seja gritante como nesse caso.