Exclusivo: Espião russo andava de Honda Fit em SP e hoje lê ‘Quatro Rodas’ em presídio

Um Honda Fit 2016 encrencou a vida do espião que passou 12 anos construindo sua identidade com um português de sotaque terrível

Sergey Cherkasov, o homem que ficou conhecido como o espião russo que está preso no Brasil, é um fã de carros e motos. Publicações deste segmento estão sendo seu passatempo na Penitenciária Federal de Brasília. Nesta apuração exclusiva do site Turboway eu conto que além de usar uma CNH falsa – crime pelo qual ele já foi condenado – a situação do espião se complicou com a compra de um Honda Fit no Brasil.

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Para entender a história, Sergey foi preso em abril de 2022 quando desembarcava no Brasil vindo da Holanda. Ele se passava por brasileiro usando o nome Victor Ferreira. A partir desta prisão é que a Polícia Federal começou a desenrolar uma rede de espiões no Brasil que foi revelada em reportagens do programa Fantástico, da TV Globo. Na última semana uma reportagem do The New York Times apontou que além de Sergey existiam outros espiões como ele por aqui. No ano passado Turboway contou que um dos primeiros documentos obtidos por Sergey no Brasil foi uma CNH emitida de forma obscura em Goiás.

Revista de carros na prisão

Na prisão Sergey recebe apenas a visita de seus advogados e de um amigo brasileiro que mora em São Paulo. Uma pessoa ligada ao sistema penitenciário revelou para Turboway que Sergey passa a maior parte do tempo lendo. Ele está sozinho em uma cela e pede para receber publicações sobre carros e motos. Exemplares da revista “Quatro Rodas” estão na lista. Todo material de leitura é inspecionado pela administração do presídio antes de chegar ao preso. Sergey segue aguardando autorização para ser extraditado para a Rússia.

Foto do espião russo em frente à concessionária de motos, nos Estados Unidos (foto: reprodução)

Nas redes sociais, enquanto ainda se passava por Victor, Sergey gostava de postar fotos e vídeos de motos enquanto estava nos Estados Unidos. Segundo os registros das autoridades e o depoimento dele próprio, ele esteve em território norte-americano entre 2018 e 2020, ele diz ter estudado e ter pilotado várias motos da marca italiana Ducati, conhecida por ter uma linha de motos de luxo que, no Brasil, têm preços acima dos R$ 70 mil.

Espião contava ter trabalhado em borracharia

Os tais espiões russos que passaram pelo Brasil assumiam uma vida totalmente diferente daquela que eles tinham antes de iniciar neste serviço. Para isso eles seguiam scripts preparados pelo serviço secreto russo. O gosto por carros e motos de Sergey não estava no script apreendido nas coisas dele, o que indica que Sergey incorporou ao personagem alguns gostos pessoais.

Sergey, na fantasia de Victor, contava que nasceu em Niterói, viveu no Brasil quando criança, depois mudou para a Argentina onde teria vivido até 2010 e voltou ao Brasil na sequência. Segundo o apurado na investigação da Polícia, só a parte em que ele chega ao Brasil em 2010 é verdade, mas vindo da Rússia, não da Argentina.

Sobre seu passado na Argentina contava ter trabalhado em uma borracharia e ter vivido uma infância pobre. O mais curioso é como o texto encontrado com ele descreve o seu antigo trabalho: um lugar sujo onde cabiam no máximo três carros e pôsteres de uma atriz mexicana e também de Pâmela Anderson na parede. O dono era um ‘senhor gordo’ que tinha contatos obscuros.

Esses textos eram preparados e lidos por Sergey à exaustão. Brasil e Argentina serviram como cenários para 20 anos de história que não existiram na vida de Victor. Aliás, até a idade não era real. Victor teria hoje 39 anos. Segundo informações da Polícia, Sergey é mais velho, mas não há apontamento da idade real dele.

Honda Fit encrencou espião

Quando foi descoberto, o espião acabou investigado e condenado pelo uso de documentos falsos. A situação dele se complicou quando a polícia descobriu a compra de um Honda Fit ano 2016. Não por qualquer situação específica do carro, mas porque essa compra revelou uma movimentação financeira que não era compatível com alguém que não tinha renda alguma declarada.

Ao investigar o caminho do dinheiro da compra do Fit e de um apartamento, a polícia descobriu que o dinheiro dele vinha de depósitos feitos em uma agência do Banco do Brasil no Rio de Janeiro. Ao todo foram investigadas 62 movimentações financeiras suspeitas em nome do fictício Victor Muller Ferreira. Imagens fornecidas pelo banco revelaram que os depósitos foram feitas por dois membros da Embaixada da Rússia no Brasil.

Sergey alternava sua vida entre Estados Unidos, Irlanda e Brasil. Enquanto estava por aqui, ele vivia em Cotia, cidade próxima à São Paulo, e comprou o Honda Fit de um casal. Turboway teve acesso às multas do veículo que apontam que o Fit circulou nas imediações do Parque Villa Lobos, região Oeste de São Paulo. As multas são por tráfego em horário de rodízio. Antes de Sergey ser preso, ele havia passado uma temporada fora do Brasil e colocou o veículo à venda. Hoje o carro está em posse de outra pessoa e, por este motivo, Turboway não publicará informações sobre a identificação do veículo.

Sergey atualmente está preso em Brasília aguardando o desfecho das investigações sobre suas atividades no Brasil. Após isso ele será deportado para a Rússia, que não o reconhece como espião e diz apenas que ele é um traficante de drogas.

Publicada originalmente em

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