sábado, 27 de julho de 2024

Como o Afeganistão virou uma preocupação para a Toyota

Desde táxis, carros particulares e policiais, quase todos os veículos da frota afegã foram fabricados pela Toyota, inclusive os utilizados por grupos terroristas.

Observe a imagem abaixo, é a foto do trânsito quando existiam dias normais no Afeganistão. O trânsito caótico e cheio de veículos bem velhos é o retrato de um país devastado por anos de conflitos entre forças americanas e o Talibã. Quase todos os carros na imagem foram fabricados pela Toyota, a marca mais popular no país.

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O Afeganistão vive uma situação lamentável após a saída de tropas americanas e a invasão rápida das cidades pelas tropas do Talibã. O país vivia uma espécie de “intervenção americana” desde 2001, quando as tropas dos Estados Unidos iniciaram a expulsão do governo Talibã sob acusação de que este grupo financiava a Al Qaeda, grupo terrorista que assumiu a autoria dos atentados contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.

O que ocorreu no Afeganistão parece não ter sido uma situação tão difícil de ser imaginada. Na ocasião de lançamento do novo Toyota Land Cruiser, no começo de agosto, o site japonês Creative 311 revelou que a Toyota inseriu uma cláusula no contrato de venda do novo veículo proibindo os compradores de revender o veículo em um prazo de um ano.

A razão da Toyota em inserir esta cláusula está relacionada com o contrabando deste tipo de veículo para grupos extremistas, como o Talibã, que retomou agora o território afegão. Em outras palavras, a Toyota está acompanhando de perto o caminho de seus veículos para evitar que eles parem nas mãos de pessoas erradas, como já aconteceu no passado.



Nova Toyota Land Cruiser, nova geração da nossa Toyota Bandeirante, vendida no Japão (Foto: Toyota)

Duráveis e não discretos

Mais de 80% dos veículos que rodam no Afeganistão são da Toyota. De um lado está o o marketing positivo, onde se destaca o Toyota Corolla como o preferido da população local. E quando se relacionam as razões desta preferência, são diretamente citadas a durabilidade e a economia dos veículos da marca.

De outro lado está a fonte de preocupação da Toyota, que são carros como o Toyota Land Cruiser (herdeiro do carro que aqui no Brasil foi batizado de Bandeirante). Assim como o Corolla lidera a preferência da população, as caminhonetes e jipes da Toyota lideram a preferência do grupo Talibã, como relatado desde 2001 pelo jornal americano The New York Times. Eles são veículos robustos para enfrentar o terreno afegão e possuem ar-condicionado para enfrentar as altas temperaturas no país.

Segundo o site Quartz, fonte de notícias empresariais, o Talibã criou uma frota de Hilux e Land Cruiser adaptados com armas anti-aéreas. Essa preferência pelos veículos vem desde a primeira invasão do palácio do governo afegão pelo Talibã, em 1996. O jornal The New York Times narrou, em 2001, que os carros da montadora conferiam status entre os líderes da organização, sendo que o Land Cruiser ocupava o topo desta preferência.

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Rede de contrabandistas

O ponto principal é que estes veículos chegam a estes grupos por uma rede de contrabando financiada pela venda do Ópio. Em 2015 o governo norte-americano perguntou à Toyota como o grupo Estado Islâmico conseguiu comprar tantos carros da marca para transformá-los em carros de guerra.

Pior do que o Talibã, o Estado Islâmico começou a utilizar os veículos em vídeos, como uma demonstração de força. A montadora afirmou à época que não sabia como os carros foram parar nas mãos do EI, já que a empresa não possuía registros de venda para os locais onde os veículos estavam rodando. Foi aí que se concluiu a existência de redes de contrabandistas de carros.

Segundo a rede de tv americana ABC, não é tão difícil saber a origem dos veículos. Mais de 800 carros deste tipo sumiram da Austrália entre 2014 e 2015. Entre 2011 e 2014 o Iraque teve um crescimento enorme de vendas destes veículos. O Iraque e o Afeganistão são separados pelo Irã ao centro e toda a fronteira é terrestre.

Matriz acompanha de perto

Fato é que a Toyota não tem qualquer relação com estes grupos e demonstrou ao Governo dos Estados Unidos que nenhum de seus revendedores forneceu os veículos diretamente a eles. As restrições de venda do novo Land Cruiser japonês têm como objetivo evitar que mais este modelo caia nas mãos destas pessoas, sobre isso a montadora se manifestou no Japão:

“A Toyota tem uma política rígida de não vender veículos a compradores em potencial que podem usá-los ou modificá-los para atividades paramilitares ou terroristas, e temos procedimentos e compromissos contratuais em vigor para ajudar a evitar que nossos produtos sejam desviados para uso militar não autorizado.

No entanto, é impossível para qualquer montadora controlar canais indiretos ou ilegais pelos quais nossos veículos possam ser desviados, roubados ou revendidos por terceiros independentes. Temos o compromisso de cumprir integralmente leis e regulamentos de cada país ou região onde operamos e exigimos que nossos revendedores e distribuidores façam o mesmo. Estamos apoiando a investigação mais ampla do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sobre as cadeias de suprimentos internacionais e o fluxo de capital e bens no Oriente Médio”

Publicada originalmente em

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