Governo e montadoras articulam carro popular de R$ 50 mil

Muita gente torceu o nariz para o valor, mas o preço corrigido pela inflação não é muito diferente do de 10 anos atrás

O tema ganhou os noticiários nos últimos dias: a volta do carro popular é negociada entre governo e montadoras. Mas em vez de custar R$ 20 mil ou R$ 30 mil como antigamente, agora seria um carro popular de R$ 50 mil ou R$ 60 mil. Rapidamente, a notícia virou polêmica.

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Uns acham uma boa, outros estão apreensivos com a qualidade do veículo e uma terceira parte simplesmente acha caro demais chamar de popular um carro que custa R$ 50 mil.

carro popular de R$ 50 mil

O ano era 2013. Por R$ 17 mil você conseguia comprar um Chery QQ. Quem torcia o nariz para os chineses tinha como opção pagar R$ 18.300 por um Renault Clio ou R$ 21.600 foi um Fiat Uno Mille. Naquela época, por R$ 50 mil, você comprava um Honda Fit. Outros tempos. Mas será que é tão diferente de hoje?

O tempo passou e a inflação comeu a renda do brasileiro. Corrigindo os valores do parágrafo anterior com a taxa de inflação dos últimos 10 anos, hoje, um Chery QQ custaria R$ 38 mil. O Renault Clio sairia hoje por R$ 41.500. E o Uno Mille custaria R$ 49 mil. Bingo.

Em outras palavras, o valor ventilado agora para um carro popular é bem próximo daquele praticado lá atrás. E, ainda por cima, é preciso fazer uma ressalva. A lei também mudou.

Hoje, qualquer veículo fabricado no país precisa ter itens de segurança que não existiam há 10 anos. A lei que obriga os veículos a terem airbags e freios ABS é de 2014. Outra lei sobre emissões de gases é mais recente. A última, mais restritiva, é de 2022.

Até por causa da lei que limita as emissões, a expectativa é que o novo popular seja movido apenas a etanol. Seria uma forma de segurar as emissões e ao mesmo tempo fomentar o uso maior do combustível. As montadoras acreditam que os motores a etanol vão ser bem eficientes e econômicos, sem as perdas do flex.

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Cumpridas as obrigações legais, a tendência é que os carros sejam depenados para que os valores fiquem baixos. Não se sabe se vamos retroceder alguns pontos. É possível que os carros venham sem ar e direção e com os arcaicos puxadores de vidro manuais. Tudo para que o preço fique abaixo dos R$ 60 mil, menos ate que um Kwid, modelo otimizado pela Renault para ser barato.

Também é de se esperar uma redução da carga de impostos que ocorrerá com a aguardada reforma tributária. Assim como já ocorreu no passado, os modelos populares deverão ter um alívio fiscal. Nós já avaliamos que o preço do carro tende a cair com a reforma tributária e a implantação do IVA.

Carro popular de R$ 50 mil: no passado, ele foi fenômeno de vendas, ainda que duvidosas

O carro popular é um fenômeno automotivo que surgiu no Brasil na década de 1990 e se consolidou como um símbolo de ascensão social e de mobilidade para a classe média brasileira.

Antes desse período, os carros eram considerados um luxo, e apenas uma pequena parcela da população tinha condições de adquirir um veículo. Porém, com a abertura do mercado nacional e a entrada de novas montadoras, como a Fiat e a Volkswagen, o cenário começou a mudar.

O primeiro carro popular a ser lançado no Brasil foi o Fiat Uno Mille, em 1990, dois meses depois do anúncio do governo federal. Com um preço acessível e baixo consumo de combustível, o modelo caiu no gosto do público e logo se tornou um sucesso de vendas. Outras montadoras seguiram o exemplo, e surgiram modelos como o Volkswagen Gol 1000 e o Chevrolet Corsa Wind.

O que se viu nas ruas, no entanto, foi uma proliferação de carros espartanos. De modelos sem calotas, com para choques de plástico sem pintura a motores de apenas 50 cavalos, o carro brasileiro era barato, mas feio, fraco e inseguro.

Mas foi inegável sua importância, que ia além do aspecto econômico. O carro popular simbolizou a conquista de uma maior independência e liberdade para milhões de pessoas. Além disso, o carro popular impulsionou o mercado automotivo e contribuiu para a criação de novos empregos e para o crescimento da indústria nacional.

Hoje, a situação é muito parecida. O carro zero voltou a se um luxo para os mais abastados, afastando as classes C, D e E para longe do mercado. E mais uma vez a Fiat parece sair na frente dessa reviravolta do carro popular de R$ 50 mil. Segundo uma apuração da Folha de São Paulo, a Stellantis é a mais animada com o tema.

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