A imagem ganhou espaço no Bom Dia São Paulo, da TV Globo, nesta quarta-feira: o grande pátio da Volkswagen em São Bernardo do Campo/SP com um mar de carros zero quilômetro a perder de vista.
A imagem ajudou a entender a decisão da montadora de encerrar, por 10 dias, as operações no Brasil, com início em 10 de julho. Alegando estagnação do mercado, nenhum carro sairá das linhas de produção da montadora no país durante este período. Estamos falando da terceira maior fabricante de carros do Brasil cruzando seus braços por 1/3 de um mês.
A imagem também revelou que o nosso mercado automotivo está sem rumo. Se há pouco mais de uma década vivíamos um grande fluxo de produção e de vendas de carros, hoje o cenário é diferente. As linhas de produção estão enxutas, o nível salarial caiu e, o pior, não há nada de efetivo para reverter essa situação.
Nem mesmo o pacote de benesses do governo federal, que deu um generoso desconto de R$ 500 milhões em impostos para as fabricantes de carros, trará alguma vantagem ao setor. As vendas tendem a ficar no 0 a 0, já que se por um lado o consumidor pessoa física comprou mais carro, as locadoras, grandes âncoras do setor, ficaram em compasso de espera – e provavelmente a chupar os dedos.
Boa parte da culpa do momento é do próprio setor automotivo. Em nenhum momento as montadoras se colocaram dispostas a aumentar suas vendas de forma sustentável, gerando empregos. Elas apenas preferiram manter alguma margem de lucro. Se fosse preciso demitir (e foi), que demitisse. Se fosse necessário subir preços e lucrar mais por unidade, assim seria. E foi.
A pandemia trouxe contornos dramáticos a essa situação. As fábricas, que já não demonstravam boa administração, tiveram que adicionar a falta de peças no caldeirão da gestão de baixo nível. O que vimos, foi uma sequência de férias, layoffs e, sobretudo, alta de preços.
Agora, a imagem do pátio da Volkswagen transbordando de veículos adiciona um outro componente nesse caldo da má gestão. Um estoque muito alto é um sinal de problemas e ineficiências em uma empresa – seja ela fabricante de botões de camisa, seja ela montadoras de carros de R$ 150 mil.
O estoque alto compromete a utilização eficiente dos recursos, aumenta os custos operacionais, aumenta o risco de obsolescência e afeta a capacidade da empresa de atender às demandas do mercado.
Alguns economistas poderão defender que o preço do carro poderá cair, já que a oferta está bem maior do que a demanda. Mas isso certamente não irá ocorrer. Um carro pode durar meses no pátio sem perder valor e é provável que a Volkswagen tenha tempo de vender os modelos parados sem se preocupar com desvalorização.
Falta saber o que ela irá fazer com o excesso de trabalhadores. Quem vai pagar pelas férias coletivas será o próprio consumidor, já que o custo da folha de pagamento está lá no preço final – e cada vez mais salgado – do carro zero quilômetro.