30 anos separam os governos Itamar Franco e Lula, mas parece que eles estão convivendo na mesma semana. No já longínquo 1993, Itamar Franco pedia – e era atendido pela Volkswagen – a volta do Fusca, carro que apesar do charme e da história, era ultrapassado como projeto. Junho de 2023. O presidente Lula pede a volta dos carros ‘populares’ às montadoras instaladas no Brasil. Nada de inovação, nada de criação. Ele quer apenas a volta de algo que ele sentia saudades.
E assim, novamente atendendo ao gosto pessoal de um poderoso, as montadoras aceitaram – de bom grado – focar suas vendas em carros de menor valor e por quatro meses se encharcarem de lucros pagos com dinheiro público – ainda que na forma de renúncia fiscal. Nada de passo para a frente, talvez um ou dois para trás.
Enquanto China, Europa e Estados Unidos, nesta ordem, ditam os rumos do futuro do automóvel, o Brasil patina em uma agenda atrasada, anacrônica, presa a tradições e hábitos do passado. Era para estarmos falando de eletromobilidade, mas estamos ‘celebrando’ um Kwid por R$ 58 mil.
Perde-se a chance de dar este passo para o futuro. Na posse, em janeiro, o ministro da Fazenda Fernando Haddad prometeu que o governo investirá no carro elétrico. Nenhuma linha foi desenrolada neste sentido até aqui. Pelo contrário. O mesmo Haddad agora manobrou alavancas da Economia para atender ao pedido presidencial. Partiu do ministro a ideia de adiantar a volta dos impostos do óleo diesel e assim fazer caixa para o carro popular.
O Brasil tem potencial para dar um passo além dos países desenvolvidos. Nossa expertise com o etanol nos permitiria avançar nos estudos sobre o motor a hidrogênio. A geração de energia a hidrogênio a partir da quebra do etanol é uma das mais promissoras tecnologias envolvendo carros. Mas nada do Brasil mergulhar neste mundo de possibilidades.
Pelo contrário. Na contramão da agenda verde mundial, em plena semana do meio ambiente, o que se vê por aqui é o incentivo a mais carros poluentes, que se amontoam nos pátios por pura má administração de ricas empresas do setor automobilístico, que por sua vez agora comemoram a possibilidade de vender mais sem mover um pelo. E tal como um presidente imóvel feito um velho rei, assistirão a derrocada da nação em posição de privilégio.