As maiores montadoras do Brasil esqueceram um pouco a rivalidade de mercado e se uniram para evitar que o carro brasileiro caia de preços.
O exemplo mais recente é o da Mercedes-Benz, que vai dar férias coletivas para 300 trabalhadores da planta de São Bernardo do Campo/SP. Ela se une a Stellantis, Hyundai, GM e Volkswagen, que já anunciaram medidas para reduzir a produção de carros.
Ou seja, em vez de aproveitar seus trabalhadores para produzir veículos, as empresas estão preferindo pagar férias e mantê-los em casa, sem produzir um único modelo.
Desta forma, mantendo os estoques baixos, as montadoras evitam a lei da oferta e da demanda. É que as vendas de carro zero estão caindo no país e a perspectiva não é de grandes melhorias no curto prazo. Vendendo pouco, é necessário produzir pouco para manter os preços nos mesmos patamares.
Com isso, o consumidor perde duas vezes. O prazo para entrega de um modelo zero em concessionária fica longo pelo baixo estoque e, o pior, o preço não cai.
Lembrando que as empresas já se beneficiaram do aumento de preços durante a pandemia. Neste caso, elas foram obrigadas a parar a produção por falta de componentes, como chips eletrônicos, que se tornaram raros no mercado durante os lockdowns pelo mundo. Com menos carros saindo das fábricas sem que o consumo tivesse freado na mesma medida, os carros subiram de preços e estes nunca mais voltaram.
A queda nos preços poderá ocorrer no médio e longo prazo, sobretudo entre os modelos usados, conforme analisamos aqui.
Ilógica lógica de mercado
Qual a lógica de combater a queda nas vendas segurando os preços? Ou seja, não seria melhor baratear o preço do carro e com isso aumentar as vendas? Uma promoção não ajuda a atrair clientes? A queda nas vendas não é culpa do carro que está caro? Óbvio que sim.
Ocorre que as montadoras já perceberam que não é mais tempo de vender carro popular no Brasil. O público mudou, ficou mais exigente e até aceita pagar mais por um modelo. E elas se aproveitaram. Mas existe um teto. Ninguém fará loucuras por um carro zero e este teto parece ter sido atingido, felizmente.
Enquanto as empresas calibram sua produção em relação às vendas, infelizmente é de se esperar que elas demitam funcionários. Fará parecer que a culpa é do consumidor, que não compra e acaba causando desemprego. Mas essa conta também precisa ser paga pelas montadoras, que estão lucrando e lucrando bem no nosso país, e não abrindo mão de serem egoístas e corporativistas.